sábado, 23 de março de 2013

CARTEIRA DA SAUDADE

Saco de minha algibeira
uma velha e gasta carteira,
tão cheia de retratos,
registros de atos e fatos.

Saco da algibeira meu passado...
Ali estou eu no banco da praça,
com um irmão de cada lado,
o braço de um ao outro enlaça.

Sei que despendo esforços vãos,
querendo falar-lhes de mim,
de como me lembro dos tempos bons.
Murmuro saudosa, mesmo assim,
sobre as brincadeiras sem fim,
sobre o repartir, defender, amar...

Fico acariciando com o meu olhar
o brilho do olhar em retrato,
imutável,
disputando a luz com o sorriso
inalterável!
Um que está ali, já partiu... Soluço de mágoa.
Mudo a foto, com olhos rasos d’água.

Agora nos vejo adolescentes,
abraçados entre parentes.
Lá estou de vestido reformado,
vaporoso, levemente engomado,
por minha irmã, de mãos de fada,
que certamente não desprezava
a boa e cara cassa importada.
Vejo mais gente que me foi tirada...

Pego outro com mãos trêmulas, sentindo-me mal,
tanta saudade derrete a lembrança em água e sal!
Guardo tudo. Rápida, guardo a sombra do passado
O presente clama, urge, exige, não admite rival...


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