sábado, 23 de março de 2013

CONVERSA QUE NÃO HOUVE

Maria Luzia Villela
Flávio era lerdo para escrever, suas cartas, parecia a Ester, demoravam séculos para chegar. Quando, enfim, ela as recebia, sua boca secava-se, coração disparava, tremia-se toda. Era paixão, amor, loucura. Em fins de semana prolongados Flávio vinha até Rio Claro e amavam-se como doidos. Suprimento de espera.

Marcou-a aquele dia em que Neuza, moça da sua vizinhança, frequentadora da mesma faculdade de Flávio, em Sorocaba, disse-lhe:

- Tenha cautela, Ester, já vi, por três vezes, seu namorado com a mesma moça tomando o ônibus. Estou certa de que tem outra namorada lá.

Deus! Seu mundo desmoronou-se. Sentia-se dele, ele jurava ser dela. Traição, pânico, ódio, dor... O quê? A demora das cartas seria sintoma?

Não esperou receber a dispensa, dispensou: “Não venha me ver, não o amo mais.”
E a carta foi pelo correio como uma espada bifurcando o caminho... Casou –se, ela; anos depois, ele.

De coração, ela pertenceu a Flávio, toda sua vida. Às vezes pensava: “E se tivéssemos conversado sobre o assunto?” Haveria mesmo a outra? Fora com ela que ele se casara? De repente, sentia que nela não deviam caber tais indagações, pois...

Que importa... ? Era seguir a vida e ser boa esposa.

Indagações teimosas...

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