sábado, 23 de março de 2013

BOA PERGUNTA ?


Maria Luzia Villela

Mariana entrou na sala como um alegre cântico:
- Vó, vozinha!
Olhei-a com olhos de coruja que acha seus pimpolhos os mais belos; completei com ouvido preparado para vozes doces como sonatas ao luar. Vó é para isso!
- Oi, filhota! Vou pôr o computador em espera, para a gente conversar.
- Ia entrar na Internet?
- Não. Vou escrever uma crônica para ENTRELINHAS. O Consa tirou férias.
- Que é Crônica? Já ouvi falar muitas vezes, mas não sei que bicho é esse.
Na mesma hora, pôs a mão na boca, temia ter menosprezado o meu trabalho. Fingi não ouvir, procurei ser bem simples para esclarecer a um jovem espírito curioso:
- Crônica é algo que se escreve para jornal ou revista, ocupando sempre o mesmo espaço e lugar . O escritor é sempre o mesmo que agrada, distrai e às vezes até informa, criando um vínculo entre o escritor e o leitor que, logo ao abrir o Jornal, vai ver o que seu cronista predileto produziu.
-Vó, que é vínculo? (Não estaria eu sendo simples?!)
- É uma ligação, um laço.
- Tá bom! Esse nome- crônica- é engraçado! De onde saiu?
- Mariana: os povos antigos tinham muitos deuses, sempre cruéis e com defeitos humanos sublimados ou seja - aumentados ao máximo. Um deus grego chamado Cronos, que quer dizer Tempo, devorava os próprios filhos! Cícero, um homem notável da Roma antiga, explicava que isso era uma figura: o Tempo não só devora os anos, mas também todos que passam por eles. Os romanos deram a esse deus o nome de Saturno. E Júpiter, principal deus romano, o acorrentou, submetendo-o ao curso dos astros. Por isso os romanos tinham a estátua de Saturno amarrada com cadeias e só as tiravam nas Saturnais, dias de festa desse deus, em dezembro.
-Ái, vó! Falou bastante, mas e daí? Porque a crônica tomou esse nome?
- Falha nossa! É que a crônica tem aspecto passageiro, uma hoje, outra amanhã... Deve abordar assuntos da época, ou assuntos que, apesar de antigos, se ligam de alguma forma ao tempo em que a crônica é escrita . Pode ser filosófica, pois os homens pensam, indagam sempre as mesmas coisas em todos os tempos; pode ser lírica pois o olhar mágico do poeta pode, em certos momentos, estar em qualquer pessoa; pode ser descritiva ou seja viva como fotografia, e dinâmica como um filme; pode ser narrativa contando fatos da época, buscando inferências noutros tempos...
-Vó!
- Que foi?
- É ruuuim! Já sei que presente eu vou te dar!
- O que será ? Ardo de curiosidade!
- Depois dessa tal de inferência! Vô te contar...! Vou dar um dicionário para a senhora achar palavras simples!
Valha-me Deus! Essa juventude...Eu? Tão simples!!!

2 comentários:

  1. O diabo, senhora, é que eles crescem, se metem a intelectuais e esquecem o jeito simples de falar e escrever, colocando um rebuscamento pernóstico ( minha avó usava muito este termo) em nome de uma tal de literalidade., a coisa fica parecida com linguagem de marchand e acham lindo. E o que é pior, na linguagem cotidiana, fora das suas esferas intelectuais ou sociais, continuam com o " nóis vai" , com o " pra mim fazer" , que eu ja ouvi varias vezes por este ,muindão de meu Deus.

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    1. Obrigada pela visita.
      A neta tem razão, inferência é dose! Luza

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lyg930@hotmail.com